O Voo é um pensamento. O tiro é um pensamento que
saiu pela culatra. John atira por que não sabia voar. Tinha marcas não do
destino, mas sim em seus braços que eram marcas de jogo. John veio ao mundo
tatuado de pequenos jogos da velha. Para cada amigo que fazia ele dizia
complete. Tinha no seu corpo jogos perdidos e jogos vencidos. Na hora de morrer
farei meu último jogo com o padre, ele me dará a extrema unção e fará minha última
cruz. Para cada três atos que fazia na vida e que dava certo, pois ele era um
azarado ou não prestava atenção na vida. Ele considerava uma linha do jogo da
velha. Na verdade, John tinha pânico do retorno. Ele quando criança jogando
bumerangue tinha horror quando aquilo voltava e ele tinha que apanhar. A lei do
bumerangue era a lei do retorno, das ações que voltam para você, do amor que
deu e que um dia uma mulher resolve retribuir. John portanto jogava velha na
sua pele com os amigos, pois estes não precisam de bumerangues, toda vez que
três ações davam certo para ele. Coisas realmente importantes que pesavam na
sua vida influenciando-a ou interferindo na vida de afetos que lhe demandavam
sua atenção. Ele ganhava os seus jogos. Três ações boas era suficiente para
bota-lo em vantagem contra seus oponentes. Por isso John uma dia pulou do 10
andar de seu apartamento. Ele viu que todo processo de mentalizar e fazer e
jogar era um voo. Era afastar-se do mundo palpável e subir para ver tudo lá de
cima. Começou a ganhar o estampido no seu ouvido. O tiro é um pensamento que
sai pela culatra do seu ouvido. Nestas
horas ele tinha medo quando uma nova tabela de jogo aparecia na sua pele, e um
amigo chegava e perguntava vamos jogar? Neste dia ele tinha quase incendiado a
casa com um cigarro que caiu no tapete. Um dia John conheceu a vizinha, e ela
meio que pediu um pouco de açúcar para fazer um doce. Ele tinha uma ação a
favor e uma contra. Portanto o jogo estava no empate. Claro a cada ação a favor
ou contra, aparecia do nada um amigo com a caneta para marcar cruz ou bola. Ela
bateu na porta e ele atendeu, tão bonita, que ele necessitaria de um desempate.
Mas fazer o quê na frente dela? uma ação fortíssima que lhe fosse a favor, e um
amigo colocando um cruz errada no lugar errado. E ele tendo a vantagem... Mas
ele não podia agir na frente dela. Como ia explicar o aparecimento do nada de
um amigo exigindo a continuação do jogo, ainda mais nas tatuagens. O voo é um
pensamento. Sair momentaneamente de si poderia ser considerado um voo. E dentro
deste voo, as três ações conseguintes poderiam lhe dar um novo ganho.
conto por Fernando Andrade