Páginas

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Mas o amor é seu poema









Quando tem prazer

 
Fernando Andrade
 

Fêmea não teme
A mea culpa.
Famigerada quando
Tem prazer: explode!
E quando ama agrupa.


Fêmea feliz com nome de Liz
E quando esta feliz diz
Que o amor gruda
Na pele e de tão quente
Ela vira um componente,
Um grupo ou até uma banda.

 
Família precisa dela
Mais ela quer algo mais
Ela quer um perfume de lavanda.

 
Ela quer uma relação - não precisa
                              Ser permanente
                              Pode não ser um Kant
                              Pois a razão não é seu verso
                              Mas o amor é seu poema
                              Viva talvez algum... –dilema. 

    

domingo, 27 de janeiro de 2013

Que tal o Cosmos ou o quintal do senhor Manoel de Barros







 
Fernando Andrade

 

Vi nave
Vi nove avôs
Vi ave em vôo.

Senti love rende vouz
No quintal
Em pleno zôo.


Abri a chave
Entrei na chavena
Tomei um chá
Rezei uma novena tocando uma clave de sol
E me pus em Viagem.


Cheguei numa vernissage,
Parei no campo e vi uma paisagem sem Pai,
Trabalhei de cavanhaque  sumi no Iraque e fiz delivery,
Entreguei Very livros na casa de Pitangy.


Depois descansei no quintal da fazenda do senhor Manoel de Barros.

 

 

 

 

 

 

 

 

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

A fotografia de Alma





Conto por Fernando Andrade

Na ilha de São Pedro a casa com a varanda é ausência. A porta de casa fica sempre aberta a turistas que chegam à ilha, e não há outra opção turística para ir a não ser lá. O longo caminho de pedra da areia até lá é sinuoso, porque a casa é no alto de uma colina. Não é possível dormir ou ir à noite a casa, pois ela enche-se de louva-deuses. A ilha é cheio destas espécies. Parece um altar, quem entra percebe um sentimento estranho de recolhimento! Fui lá para uma filmagem, e o faroleiro da ilha desceu comigo até o poço onde o ex-marido de Teresa jogava a sua rede.  - A única fonte de renda deles era a pesca. - Ele vinha neste poço, pois na praia a água tinha tanto sal que chegava a machucar os pés.  - E ela fazia o quê? Ele olhou para mim e num meio sorriso aguardou a resposta. Talvez quisesse ver aonde ia minha curiosidade. -Ela era retratista”. -De quem? -De pessoas que vinham à ilha. -Mas eu nunca soube de pessoas que viessem à ilha com alguma freqüência! -Eu também não, e sorriu. -Aqui é o lugar do poço. -A saída é no mar onde tem ligação por baixo através de um canal. -Ele a achou aqui. -Melhor, ele a pescou aqui. -Você sabe o que é uma ninfa? -Uma divindade? -Sim, mas não desta área. -Ele a pescou aqui, apontando o lugar. -Ela estava quase morta devido ao excesso de sal. -Começou a sair de casa à noite para vir neste poço. -Teresa não desconfiou. -Ele era meio arisco até com ela. -Mas o que me chamou a atenção é que ela era assimétrica no seu rosto. -Isto o encantou. -O que temos em par no rosto? -Os olhos e os ouvidos. -Exatamente. -O homem possui uma linha assimétrica à mulher. -Numa certa região não há correspondência. -Eles tiveram um caso durante todo o inverno. -Mas a ninfa parecia que queria outra coisa na ilha. -Ela sumiu e por incrível que pareça, Teresa também desapareceu. -Até foi dada como morta. -Ele foi considerado o responsável. -Mas não foi preso, por falta de provas. -Até que começou a aparecer na casa deles desenhos e fotos de pessoas que nunca ninguém tinha visto. -As fotos todas eram enquadradas num meio eixo, ora o direito, ora o esquerdo. -E todos com mais de setenta anos! -A gente brincava que as rugas não continuavam, era quase como parar a velhice. -Teresa nunca havia feito tal opção por um tema assim. -O mais incrível era a jovialidade da expressão dos rostos, todos pareciam que brincavam na hora de tirar suas fotos. Perguntei então, -Mas eram meios sorrisos? -Sim, o pior é que estas pessoas todas estavam mortas quando as fotos foram feitas. -Pesquisei os nomes das fotos. -Todas sem exceção! -Teresa voltou, mas nunca mencionou a ninfa. -Muito tempo depois, veio uma menina de seus 17 anos. -Ele ficou aturdido demais com a semelhança. -Começou a persegui-la. -Mas sabia que era uma interdição assumir qualquer relacionamento com ela. -Até que um dia, ele foi encontrado enforcado na serraria. -Neste dia, Teresa fechou a casa e pediu um barco para sair da ilha. -Aquela foto que você viu na casa foi última antes do naufrágio. -O rosto de Teresa pela metade sorrindo e a outra menina amuada, como se soubesse da verdade toda. -A família de Teresa era toda Judia. -Alma era o nome da ninfa; e também o nome da mãe de Teresa.


 

 

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

O Globo e as chaves






Conto por Fernando Andrade

 

Eram 6 da manhã quando desci do apartamento. Havia tido uma tormentosa insônia. Olhava a janela fixando no céu a primeira tonalidade de azul de manhã. Saudei-a com se fosse um brinde a uma noite de amor inebriante. Embora minha noite fosse minha cama e a solidão, apressei-me a ficar de pé e esperar o amanhecer. Tudo acalmado pelo zelo dos sonos dos outros, mas eu estava ali para zelar os últimos vestígios de quem está para levantar e ir para o trabalho. Vesti uma bermuda e uma camiseta do Botafogo. Esperava eu alguma saudação de algum um torcedor matutino?   Fui à banca e pronto para adquirir O Globo de uma manhã de sexta-feira. Os lançamentos do cinema estariam frescos no cacho da prateleira da banca. Cheguei lá e saudei o jornaleiro Flamenguista. Caíste da cama? Teu time só empatou. Não respondi e fui ao bolso pegar aquele dois e cinqüenta que levo contado. Para meu desespero, não vi nada no bolso. O dinheiro não estava; muito menos minha chave de casa. Olhei no bolso de trás das nádegas. E dali saiu uma chave estranha, única. O senhor vai levar o Globo? Não José, não trouxe o dinheiro. Esqueceu mais alguma coisa? Uma chave estranha foi parar nas minhas nádegas. Não é da sua residência? Não. O senhor está lascado. Há alguém em casa? A empregada chega às 9 horas para fazer a faxina. O senhor tem três horas para descobrir onde enfiar essa chave. Sabe o prédio pelos menos? Desconfio. Leve o jornal, depois me paga. Saí com o Globo debaixo do braço e fui perfilando os prédios da minha rua, tentando lembrar qual era o dela. Claro, era o anterior ao meu, afinal éramos vizinhos. Cheguei à porta do prédio e falei com o porteiro que estava ali na frente do portão. O apartamento dela está vazio. Ele fez sim com a cabeça. Posso ir lá. Para que? Esqueci uma coisa lá...
Subi no elevador e saí no terceiro andar. Andei pelo corredor até o número da porta. Botei a chave no buraco, e pensei e se ela voltou? Quando abri o apartamento estava vazio. Entrei pela sala e fui para o quarto dali vi um banco esquecido. Estava este banco exatamente voltado para a janela. Como se ela estivesse ali e tivesse saído para comprar jornal. Sentei no banco e olhei... –Comecei olhando o segundo caderno e passei pelos esportes e isso as horas iam deslocando seus compassos de círculos calmos. Lembrei do beijo naquele outro quarto, do despir lento e de como ela tinha feito. Vem aqui, o número do apartamento: 302. Não tive coragem de entrar, deixei apenas um leve esbarrão na porta quando passei. Ouvi pedaços de conversas dos vizinhos. Agora eu era meu próprio vizinho. Li o jornal inteiro com uma calma que nunca tive ao ler notícia nenhuma. Naquele dia eu saberia do mundo inteiro! Fui ao banheiro; lugar dos nossos banhos! E tomei um! Não foi igual... - sai com uma toalha e sentei no banco e quando vi minha empregada olhava para mim com uma cara para lá de assustada. Mas senhor... O que está fazendo ai na casa dos outros com uma toalha apenas. Lembrando Verônica. Apenas lembrando...           

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Amor






“Amor”

Resenha por Fernando Andrade

O corte é uma arma utilizada para deixar de olhar algum incômodo que venha depois. Exímio prosador do bom tom: edita cenas agonizantes, ele serve para nos poupar do drama pesado. No cinema de Michael Haneke não há  esses cortes provisórios. Ele escreve a cena de maneira inteira, mesmo achando que exagere nos elementos da dramaturgia que compõe o enredo.  Ele discursa através dos seus diálogos incisivos alguma idéia sua que ele mantém na sua mente de artista. E nada melhor que personagens complexos e individualizados em algum conflito fortíssimo para saber que postura moral irá nortear suas ações. Para isso, atores e atrizes capazes de trazer esta complexa teoria que ele encena de forma dura. “Amor” filme que está ganhando todos os prêmios e tem sido escolhido por todas as associações de críticos do mundo, como melhor filme de 2012 é uma síntese de seu trabalho, talvez porque estamos muito próximos de um evento em que nós expectadores: podemos nos ver. O mal que o diretor sempre estudou nas esferas sociais, que se dissemina ou se multiplica alterando a existência de uma ordem aparentemente em paz.  Em “Amor” ele coloca na própria biologia do corpo humano que um dia definhará. E como aceitar este imperativo físico que é tão próximo da nossa constituição psíquica, já que corpo e mente são unos. A atuação de Emmanuelle Riva é estupenda. Do momento de um alheamento que inicia o processo ocasionado por um derrame até a paralisia é perfeita, inclusive, sua andança pelo processo degenerativo que passa seu corpo. Ainda mais, sua altivez em não passar por uma degradação para seu esposo ver. Jean-Louis Trintignant é um colosso de moralidade ao fechar sua esposa da bisbilhotice de filha e amigos. Toda sua força está concentrada no verbo afiado e na tarefa diária de cuidar da mulher. Voltando ao corte, Haneke, cuida que cada cena tenha um peso que traga ao expectador além de informação, mas também participação, talvez o peso do drama seja para ele tão definidor que ele não avente a possibilidade de quem assista não se coloque no filme.              

 

 

 

 

 

 

Iam amar Nina








Na hora do amor
Fechou os olhos
Na sua tela interior
De lírios viu filhos
Germinando em sua mulher
Como uma flor.

 
E pensou tão cálido
Que perpetuar era tão melhor
Que seria um bom Pai                                                                                                     
Que um ato fálico
Era um ato de sabedoria
Pois estava tão velho
Que achou que ser homem
Era ter a palavra germina
                           No sêmen.

Ai veio por nove meses
Uma canção de Ninar à dois
E aparecendo na ultra
Uma fêmea menina
Iam Amar Nina.           

 

       

sábado, 19 de janeiro de 2013

Lírico tempo






           
Lírico tempo prove a trova em chuvas pequenas
Tempo gênero oculto nas dobras... - da velhice.
Vai perfilar os cantos
E os recantos das penas
Que te cai no mundo.

O tempo é de falar o tempo o tempo é da folha
Da velhice do outono... - das árvores idosas.

Sai deste castelo seu cavalo lustroso
E diz que as palavras que te dou provocam anarquia.

Lira revira este canto
Atravessa o avesso da folia
De um arlequim.

Inteiro de tantos amores
Ele chora quando sai pra Lia,
Ele é tão denso de paixão
Que lhe somente cabem suas dores.  

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Eternos interstícios







      
 
Neste silêncio
O cio
Toma a violência
Do ciúme
Doma
O corpo físico
E a redoma do corpo
Abre-se a latência.
 
Neste silêncio
O vício perfura o nome
Da eficiência e assume
Sua contradição
Quando as cadeias de palavras somem.
Some
A voz e
Desaparece a dicção de um momento.
Tudo silencia a sós
E a trovas desovam
Em eternos interstícios.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Lívida








               
 

Lívida
Ela levou susto?
Tomou gosto
Do levedo da bebida,
Da dívida não paga
Do ledo rosto que se apaga...

Quando ela não se amou...
Na dúvida, porque ela não se afaga?
Que ele não a toque:
Porque vê em você um folguedo,
Alguma ação que se troque
Por admiração e feudo.
Por achar tudo em choque!
Ao abrir o coração
Em Oração e conteúdo.

Achou algum pertencimento?
Mesmo que o amor fosse miúdo
Fosse de gesso e cimento
Amalgama de períodos em si
Aquecimentos das internas escolhas
De horas diurnas e folhas outonais.         

 

 

    

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Seus ânimos em cânhamos






 

Evitar o olhar
È ver o amor
Interiorizar
È recolher
Seus ânimos
Em cânhamos.

Tatear
Por as mãos onde chamamos
Chatear os amigos
Inventar jogos pra conversar
Ter nomes em i\ por os pingos
Naquele domingo\ reverta esta pressa
Fique aqui! Bote música, gosta de gospel?


Ligue a TV e evite a fuzarca.
Assista Querele fume um cigarro
Escreva poemas, mas não em papel,
Visita no Zôo - emas escondidas
Vá ao cinema e vire o seletor
Vire um leitor
Faça vôo de asa delta
Estude literatura celta
Mas não alterne a alta taxa
Nem fique em baixa.

Ame só e encaixe.

    

 

                        

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

       

domingo, 13 de janeiro de 2013

Tarrafa das restingas







              
Li letras secretas
Cosi línguas quietas
Aliciei tretas nas tarrafas das restingas
Apalpei ínguas
Abri todas as garrafas
De dentro verti pingas
Sofri as gingas de alguma safra de meu coração... embebido


Danei-me em alguma conspiração
Por que não há retorno
Nos engasgos desta vida
Não há resto nesta despedida
Por aqui e por lá talvez uma explicação
De usar o refrão e
 Assobiar esta canção.     

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Você será em Teerã








           
 

Você terá
Em Teerã
Uma terra
Você será
Em Teerã
Um imã
Puxando irmãos
De sangue ou não.
Ataques, questões
Verdade e opiniões
Em Teerã serão rimas no pomar.
Mar político terra crítica
Pesa medida serra marítima.
Você poderá em Teerã errar
Navegar liberdade com qualquer idade
Ao viver liderará legítima condição
De definir o seu nome em sua pátria
E seguir em irmandade.   

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Luz Girassol Alcaçuz solar







         
       
 

Luz girassol... Amarelo Picasso
Alcaçuz solar... Aquarela arquiteta
Luzes escassas... Querelas nas casas
Qual é ela?
Sombreada e quieta
Pisa nos bosques
Voa nas asas da borboleta
Entra em quiosques
Pede costela
- Quero a do Adão!
Para beber com uísque
E riscar das unhas com
(ex) maltes escoceses envelhecidos em tonéis de riso.    

 

sábado, 5 de janeiro de 2013

Louça enlouqueceu









         
Parte da tua louça
Enlouqueceu.
Outra parte só aqueceu.

Parte dela quebrou silenciosa
A que sobrou viciou-se em analgésicos.

A parte que partiu
Uma carta a ela foi destinada:
Houve ferida na despedida,
Caco de conversas se verteu em licor
Outros cacos machucaram o pé de Alice.

 

 

 

 

 

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Arte pop






 
Arte pop
Pequenina.
Arte produzida
Por gente fina
Na semana da arte moderna.


Eu vi no encarte
Eu vi apenas uma parte.
Eu ouvi o disco
Trazendo uma letra e algum risco.


Falava da morte da boa escrita
Pela morte do rito de passagem
Por quais os seus e o meus
Já passaram.

 
O que em suas mãos não tinham ainda mais descrito
O poder da palavra inscrita no verso do amor!
O que as pessoas sentiam na entonação da voz
De uma intérprete e que não havia calor
E ninguém mais
Tinha sua canção preferida!

  

 

 

 

 

 

 

    

Limite não é outro





     
Limite não é o outro.
Limite não é abuso.
Imite um pouco
O uso que faz
De um louco juízo
E verá que sua paz
Não saíra no prejuízo.

 
Não limite o que te permite no bem
Mas não dinamite o seu ideal,
Ele o fará sair no riso
Ele te manterá na real.

 
O palpite que você recebe é preciso
Que o outro é legal e gregário
E que nesta estrada Narciso
Olhou-se na água de um rio
E viu que era alguém fascinante. 

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Amor é partilhado









   
Liga leve vem amor bate verve.
Põe neve no calor

Abate a minha greve.
Liga leve-me onde for

Ver verbo quando sol sair.
Sair das palavras uma flor

Sola é estrada que salta.
Eu vou e lavro este sal

 
Ser é livre e o amor é partilhado,
Não travo um favo de mel,
Ao contrário lambuzo o ovário de minha mulher
Lavo o rio das lavadeiras que lavam na beira do céu.