Resenha por Fernando Andrade
O corpo é uma pele tão cheia de toques e afetos que
na memória do seu dono(a), ele ou ela tem um arquivo de sensações friccionadas
por mãos que já alisaram a pele\ página. O corpo produz textos vistos ou não
pelo outro, e o escritor seria nada mais que uma pele incorpórea que cria um périplo
de enredo que enreda quem os lê. Mas se este autor não consegue ser um corpo
exposto ao frenesi de um público que o consome? Em MR. Gwyn do autor italiano
Allessandro Baricco pela Alfaguara, o romance redireciona o autor contemporâneo
nas interfaces da arte; nas imbricações dos modelos de produção artística. A
exposição é um dilema para quem (não) suporta um (a)pagamento do sucesso. E
assim o senhor Gwyn resolve escrever um artigo para o Guardian com 25 tópicos
explicando seu desaparecimento de escrever romances. Aluga um estúdio e compra
uma quantidade x de mini lâmpadas que serão usadas como duração de tempo do
retrato até elas apagaram completamente. Bota um anúncio e diz que é copista
fazendo retratos narrados. O cliente chega e se desnuda, ficando a vontade para
circular, andar, deitar, dormir. Paga um preço alto pelo retrato do copista. Mas
a palavra é restringida, ao menos por enquanto. O conteúdo do retratos ao
leitor é vedada a significação. Cada sessão dura por volta de 4 horas. A sua primeira
modelo é uma secretária que trabalhará para ele, e será ela a unir as pistas
ocultas em torno do futuro desaparecimento físico de Mr Gwyn.
O texto é
todo cheio de reentrâncias e buracos de sentido eclipsados que só mais na
frente serão preenchidos por revelações sobre este projeto do escritor. A
falsificação seria uma forma de “embuste” ou de prerrogativa para o artista se
despossuir do mundo? O livro começa então a usar a arte como gancho de
apagamento do sujeito; mas um apagamento apenas das suas impressões digitais,
ele continuaria existindo no subterrâneo, nos disfarces de persona, de gêneros
também. A classificação talvez para todos que lidam com a arte seja o maior
dificuldade de enfrentar o outro, este outro na forma de jornais, TV’S e
leitores.