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quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Cabotino carbono











                         
 

Cabotino carbono
Por trás cópia
Pela frente: abandono que adiciona.

Tinta preta sem sono.
A própria mancha que ronrona
Uma linguagem
E um garrancho sujo
Nas mãos e
Nos simples ganchos do ressurjo.  

Vá amor, voe pelos céus azuis







                       
Vá amor, voe pelos céus azuis.
Eu sei que o chão deste dias estão cruéis.
E que tem muita gente desistindo
Dos sonhos e de uma possível estabilidade.


E que correr pelas nuvens é tão mais etéreo...
E que ver as estrelas quando anoitece
É bem mais poético do que ser o quê: sério.
 

O rumor dos dias para quem tece
O labor de cada dia é uma diáspora.   
E aí das galáxias, o tempo é diáfano.

 
Sei como é ficar com falta de gravidade
Tudo fica sem véspera e tudo nem espera.

Aqui fui pagando as contas e me aborrecendo
Com a raiva e ódios de cu mal -  evacuados,
Com os esgotos e as salivas de cuspes interpessoais,
Mas irei fechar minhas contas e venderei o apartamento
E me (tele)transportarei para ficar aí em algum ponto do espaço intergaláctico- contigo.

 

 

 

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Para Copacabana, com amor


Resenha por Fernando Andrade
 

O texto de ficção possui uma infinidade de significações. Um lugar pode ser um espaço físico mas está sujeito também à interpretações, pois existem pessoas; estas de índoles e personalidades tão ricas e complexas que já se tornam uma ficção real. Por isso não há jeito de conceituar Copacabana a não ser escrevendo sobre ela. É como se Copacabana fosse demasiada humana, fosse uma bairro com jeito de vocação perpétua para o disfarce, talvez se algum poeta a fosse usar em versos, ela se tornaria sua musa. Retratar Copacabana é tarefa para artistas do verbo e é neste caldeirão de vozes narrativas múltiplas que vou falar um pouco de autores que a (Re) criaram: “Para Copacabana, com  amor” - coletânea de contos organizado por Daniel Russel Ribas e que está saindo pela editora Oito e meio.

 “Canto” de Saulo Aride, abre a coletânea, com uma narração de um garoto(estudante) falando da sua fascinação do mar para uma garota de um banco onde um poeta estaria depois fixado. Refluxos de imagens do estudante ao mar, enquanto liberta seu corpo para o jogo de atração que toda maré carrega-nos para dentro.

  Em outro conto, “os Bravos do Bairro”, Leandro Jardim faz uma divertida estória literária de um poeta que encontra uma mulher que faz uma monografia sobre prostituição no bairro e ali peregrinam pela falida boate Help, O contista permeia em tom afetivo a narração, intermeando com alguns poemas inseridos no texto, ilustrando a relação entre a parte física do lugar e uma fina ironia com falta de vocações literárias do bairro.

 Outro conto, que permeia o literário mas através de uma citação é da Mayra Lopes de Couto, “Desvario”, Utilizando os mesmos nomes de personagens do livro “A Insustentável leveza do ser”, a escritora narra um encontro de um amor casual de um garota que procurava uma amiga e acaba esbarrando num garoto com bicicleta no banco onde tem uma estátua de um poeta. Mayra com uma linguagem vibrante, cria uma empatia forte com leitor com personagens instigantes e bem delineados.

O conto do escritor, Márcio Menezes, já não tem um roteiro linear, “Em Constante Ramos ,125” parte de um recorte poético juntando partes de textos numa espécie de colagem pop com referências a cultura do Rio e seus personagens.

 Já em “Mansão De bolso”, a escritora Vivian Pizzinga, cria um ótimo personagem, quase um anti-herói que vive num apartamento minúsculo em Copacabana, chamado de Mansão de bolso; recebendo amigos e artistas. A escritora utiliza uma brincadeira com o jargão da psicanálise fazendo referência ao perfil do personagem que se chama Edgard e cujo apelido é Id.

 A coletânea tem uma linha que não se torna homogênea em sua trajetória, os escritores que participaram desenvolveram uma ótica muito particular do bairro, e cada texto tem seu ritmo de escrita com suas particularidades.