Resenha por Fernando Andrade
O texto
de ficção possui uma infinidade de significações. Um lugar pode ser um espaço
físico mas está sujeito também à interpretações, pois existem pessoas; estas de
índoles e personalidades tão ricas e complexas que já se tornam uma ficção
real. Por isso não há jeito de conceituar Copacabana a não ser escrevendo sobre
ela. É como se Copacabana fosse demasiada humana, fosse uma bairro com jeito de
vocação perpétua para o disfarce, talvez se algum poeta a fosse usar em versos,
ela se tornaria sua musa. Retratar Copacabana é tarefa para artistas do verbo e
é neste caldeirão de vozes narrativas múltiplas que vou falar um pouco de autores
que a (Re) criaram: “Para Copacabana, com amor” - coletânea de contos organizado por
Daniel Russel Ribas e que está saindo pela editora Oito e meio.
“Canto” de Saulo Aride, abre a coletânea, com
uma narração de um garoto(estudante) falando da sua fascinação do mar para uma
garota de um banco onde um poeta estaria depois fixado. Refluxos de imagens do
estudante ao mar, enquanto liberta seu corpo para o jogo de atração que toda
maré carrega-nos para dentro.
Em
outro conto, “os Bravos do Bairro”, Leandro Jardim faz uma divertida estória
literária de um poeta que encontra uma mulher que faz uma monografia sobre
prostituição no bairro e ali peregrinam pela falida boate Help, O contista
permeia em tom afetivo a narração, intermeando com alguns poemas inseridos no
texto, ilustrando a relação entre a parte física do lugar e uma fina ironia com
falta de vocações literárias do bairro.
Outro conto, que permeia o literário mas
através de uma citação é da Mayra Lopes de Couto, “Desvario”, Utilizando os
mesmos nomes de personagens do livro “A Insustentável leveza do ser”, a
escritora narra um encontro de um amor casual de um garota que procurava uma
amiga e acaba esbarrando num garoto com bicicleta no banco onde tem uma estátua
de um poeta. Mayra com uma linguagem vibrante, cria uma empatia forte com
leitor com personagens instigantes e bem delineados.
O conto
do escritor, Márcio Menezes, já não tem um roteiro linear, “Em Constante Ramos
,125” parte de um recorte poético juntando partes de textos numa espécie de
colagem pop com referências a cultura do Rio e seus personagens.
Já em “Mansão De bolso”, a escritora Vivian
Pizzinga, cria um ótimo personagem, quase um anti-herói que vive num
apartamento minúsculo em Copacabana, chamado de Mansão de bolso; recebendo
amigos e artistas. A escritora utiliza uma brincadeira com o jargão da
psicanálise fazendo referência ao perfil do personagem que se chama Edgard e
cujo apelido é Id.
A coletânea tem uma linha que não se torna
homogênea em sua trajetória, os escritores que participaram desenvolveram uma
ótica muito particular do bairro, e cada texto tem seu ritmo de escrita com
suas particularidades.
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