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domingo, 9 de março de 2014

A arte de sumir: escrevendo



 

 

Resenha por Fernando Andrade

 

O corpo é uma pele tão cheia de toques e afetos que na memória do seu dono(a), ele ou ela tem um arquivo de sensações friccionadas por mãos que já alisaram a pele\ página. O corpo produz textos vistos ou não pelo outro, e o escritor seria nada mais que uma pele incorpórea que cria um périplo de enredo que enreda quem os lê. Mas se este autor não consegue ser um corpo exposto ao frenesi de um público que o consome? Em MR. Gwyn do autor italiano Allessandro Baricco pela Alfaguara, o romance redireciona o autor contemporâneo nas interfaces da arte; nas imbricações dos modelos de produção artística. A exposição é um dilema para quem (não) suporta um (a)pagamento do sucesso. E assim o senhor Gwyn resolve escrever um artigo para o Guardian com 25 tópicos explicando seu desaparecimento de escrever romances. Aluga um estúdio e compra uma quantidade x de mini lâmpadas que serão usadas como duração de tempo do retrato até elas apagaram completamente. Bota um anúncio e diz que é copista fazendo retratos narrados. O cliente chega e se desnuda, ficando a vontade para circular, andar, deitar, dormir. Paga um preço alto pelo retrato do copista. Mas a palavra é restringida, ao menos por enquanto. O conteúdo do retratos ao leitor é vedada a significação. Cada sessão dura por volta de 4 horas. A sua primeira modelo é uma secretária que trabalhará para ele, e será ela a unir as pistas ocultas em torno do futuro desaparecimento físico de Mr Gwyn.

 O texto é todo cheio de reentrâncias e buracos de sentido eclipsados que só mais na frente serão preenchidos por revelações sobre este projeto do escritor. A falsificação seria uma forma de “embuste” ou de prerrogativa para o artista se despossuir do mundo? O livro começa então a usar a arte como gancho de apagamento do sujeito; mas um apagamento apenas das suas impressões digitais, ele continuaria existindo no subterrâneo, nos disfarces de persona, de gêneros também. A classificação talvez para todos que lidam com a arte seja o maior dificuldade de enfrentar o outro, este outro na forma de jornais, TV’S e leitores.       

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