Ali havia
uma ratoeira com uma isca dentro: um delicioso pedaço de queijo. De todos os
móveis de dentro do apartamento a ratoeira era para o condômino de 203 o item
mais importante do apartamento. Pegar ratos para domestica-los. Dar a noção de
espaço longo a estes seres degredados e banidos em buracos e lugares sujos.
Depois de presos eram recondicionados a usar a liberdade de formas mais
profícuas com o meio social. A cada rato solto o condômino dizia ao roedor –
aproveite a hospitalidade da casa. A liberdade garantida para o movimento solto
e curioso do bicho fazia-o esquecer de seus hábitos e vícios. O fato de ter
total liberdade de convívio com quem lá chegasse fez cada um olhar-se no
espelho e readquirir um nova auto - imagem. O convívio social porém foi feito
aos poucos, a comida dos ratos ainda eram separadas dos moradores. Seus modos
de comer ainda causavam repulsa principalmente em visitantes que quando
chegavam ao 203 ficavam com alguma cerimonia de aceitar um simples copo d’agua.
O morador avisou ao chefe dos roedores que
eles não poderiam ficar ali, só comendo sem nenhum comprometimento
profissional. Desde então foram treinados para exterminar as baratas que
assolavam o 203. O que se via era uma longa caçada de roedores em busca de uma
provável nova cadeia alimentar e uma profissão: Dedetizadores de baratas. Em
dois meses o índices delas abaixou drasticamente, e não era raro eles até
assistirem aos desenhos animados da Disney junto com as crianças. Através do
convívio social adquiriram uma tendência ao humor e as piadas, e não era raro
entres eles ridicularizarem um ao outro em um algum aspecto idiossincrático. O
morador do 203, preocupado, com o aumento de conhecimento humano dos roedores resolveu
retirar da sala os livros, romances; ensaios de filosofia e psicanálise para um
sótão, lugar aonde eles tinham vindo e provavelmente não gostariam de voltar
nunca mais. Trancou com uma chave e disse ao rato chefe que ali havia uma peste
como aquela descrita no livro do Camus e que eles seriam extinguidos se lá
entrassem. Em um determinado ponto de suas consciências, a dúvida assomada a
curiosidade começou a pressionar as mentes principalmente dos mais jovens.
Começaram a ter reuniões clandestinas para tentar entrar no sótão e ver o que lá
era tão proibido. Começaram a fazer estudos de caminhos que pudessem levar até
o sótão aos poucos, eles foram desaparecendo do 203. O dono às vezes chamava
pelo nome de algum e só recebia silêncio.
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