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sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

A oralidade e suas posses

Ele sabia cada nome dos objetos que o cercava. Mesmo assim, não sabia como os querer. Entre ele e o objeto não havia uma relação de uso, mas de necessidade, quase de latência da fome. A posse para ele era oral. Primeiro: a palavra, depois o alimento. Sua tia deu-lhe um presente de aniversário: Uma carteira de dinheiro. Tome e experimente. Quando você dá uma camisa para alguém, você diz: experimente. Aquilo lhe tomou de assalto sua compreensão. Na frente da tia, ele enfiou a carteira na boca e começou a mastiga-la. Meu filho, isto é sujo! Tira da boca! É para guardar dinheiro!!! Magoado, foi para o quarto com a carteira na mão, toda lambuzada.
Lembrou quando era criança, e ia para escola. Sempre na hora do recreio, tirava a carteira do bolso e comprava ora um sanduíche ou um salgado. Ia comer sozinho na sala de aula. Sentava na carteira e comia...

O trajeto - Cantina, carteira, dinheiro, sanduíche, sala, carteira da sala e fome ou nome...

Sua tia quando saiu do quarto lhe disse: Dinheiro é sujo. Por isso usamos a carteira para guardá-lo. Lembrou de todo trajeto até o seu nome...

Havia na sua estante, um dicionário de ficção com pequenos trechos de narrativas. Olhou na palavra dinheiro.

HOMEM DE COLARINHO BRANCO RECEBE DINHEIRO SUJO. SUA EMPRESA DE FACHADA ERA UTILIZADA COMO LAVAGEM DE DINHEIRO.

Pensou bem no que fez; botando a carteira na boca. Realmente sua tia tinha razão.

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