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sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Pêssego

Depois de comer toda polpa do pêssego, prendeu na boca o caroço, mostrando a mim os vestígios da carne ainda fixada. O fez para que tomasse de sua boca e depurasse o resto. Pensando em se tratar de uma brincadeira erótica, tirei da sua boca e acariciei o pequeno esqueleto. Seus olhos me aguardavam na tarefa de raspar a penugem até que ficasse liso. Ela falou: É preciso deixá-lo integro. Tive uma ideia, nas minhas mãos fiz um número de mágica o fazendo desaparecer. Ela sorriu depois se amuou.
Durante todo ato sexual, ia mordiscando o pêssego enquanto o comia em pequenas porções. Talvez eu não ouvisse, quando acalmei os movimentos, ela soprou entre os dentes: Bota pêssego em mim. O que? Olhava-me com a fruta na mão, sorrindo de um modo tão encantador que eu me alegrava e intensificava minha pélvis sobre ela.
Antes do sexo, havíamos brincado de forca. Ela pensou numa palavra e eu ia tentanto descobrir antes que meu boneco fosse decapitado. Me disse uns 80% da palavra pêssego. Seu pai se jogou da varanda do décimo andar, ainda hoje chora copiosamente nos meus braços. Quando saí dela me veio a imagem da areia da praia levantando por causa do vento da manhã; seis. O mar calmo. Sereno. Puxei o papel para mim, antes que minha cabeça caísse e escrevi a palavra soprada por ela. A noção do que se pede, quando se quer paz.

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