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segunda-feira, 19 de setembro de 2011

O Globo e as chaves

6 da manhã. Vou descer do apartamento. Havia tido uma tormentosa insônia.Levantei para olhar a janela, fixei no céu a primeira tonalidade de azul do amanhecer. Saudei-a como um brinde à um amor inebriante resistente. Tudo calmo, pelo zelo que tinha pelo sono dos outros. Mas eu estava ali para zelar também pelos vizinhos que levantam cedo para ir trabalhar.Vesti uma camiseta do Botafogo e uma bermuda jeans e como disse desci as escadas. Ansiava por um transeunte que me colocasse na ordem do dia, com uma saudação alvinegra. Não vi tal criatura. Cheguei a banca da esquina pronto para comprar o jornal o Globo de uma manhã de sexta-feira.Saldei o jornaleiro - uma flamenguista renhido que comentava o número astronômico de empates entre os dois times. Quando me viu, ollhou minha camisa, "caiste da cama?" Não respondi. Levei os dedos ao bolso da bermuda para tirar o dinheiro contado do jornal, e suspirei com pesar. Não havia 2,50. Muito menos minhas chaves de casa. "O senhor vai levar o Globo?"
"Acho que esqueci o dinheiro". "Também acho que vou ficar na rua!" "O primeiro problema eu posso resolver". "Leve e me paga quando lembrar de que é botafoguense". "Agora já as chaves"...

Fui no bolso de trás e lá saiu uma chave avulsa. "Achou a chave!" "Não José". "Não é minha". "Não é da sua residência?" "Não... "Minha faxineira só chega às 9 horas". "O senhor está lascado!" "Da onde é essa chave?" "Desconfio que seja aqui na minha rua".

Subi o elevador e sai no terceiro andar. Andei pelo corredor até o número da porta. Enfiei a chave na fechadura e girei, a porta com meu empurrão, abriu. Entrei pela sala e fui direto para o quarto. Olhei o banco de madeira ali esquecido. Estava voltado para a janela. Como se ela tivesse deixado ali para também comprar jornal com seu José. Sentei no banco, antes dela. Iniciei pelo segundo caderno;depois vi os esportes e nisso as horas iam deslocando seus passos de círculos lentos. Lembrei do beijo. Naquele outro quarto por que passei antes desse. O despir lento e de como foi feito. "vem para cá agora" "O número é 302". Cheguei perto da porta, roçei os dedos nela, mas não entrei. Senti um cheiro de jasmim. Fui ao banheiro, e tomei um banho, um outro. Quando voltei à janela e sentei no banco para olhar, eu estava apenas de toalha enrolada ao corpo. Minha faxineira olhava para mim; assustada. "Senhor, o que está fazendo na casa dos outros com apenas essa toalha?"Lembrando das chaves, e de Verônica.

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