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terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Amor






“Amor”

Resenha por Fernando Andrade

O corte é uma arma utilizada para deixar de olhar algum incômodo que venha depois. Exímio prosador do bom tom: edita cenas agonizantes, ele serve para nos poupar do drama pesado. No cinema de Michael Haneke não há  esses cortes provisórios. Ele escreve a cena de maneira inteira, mesmo achando que exagere nos elementos da dramaturgia que compõe o enredo.  Ele discursa através dos seus diálogos incisivos alguma idéia sua que ele mantém na sua mente de artista. E nada melhor que personagens complexos e individualizados em algum conflito fortíssimo para saber que postura moral irá nortear suas ações. Para isso, atores e atrizes capazes de trazer esta complexa teoria que ele encena de forma dura. “Amor” filme que está ganhando todos os prêmios e tem sido escolhido por todas as associações de críticos do mundo, como melhor filme de 2012 é uma síntese de seu trabalho, talvez porque estamos muito próximos de um evento em que nós expectadores: podemos nos ver. O mal que o diretor sempre estudou nas esferas sociais, que se dissemina ou se multiplica alterando a existência de uma ordem aparentemente em paz.  Em “Amor” ele coloca na própria biologia do corpo humano que um dia definhará. E como aceitar este imperativo físico que é tão próximo da nossa constituição psíquica, já que corpo e mente são unos. A atuação de Emmanuelle Riva é estupenda. Do momento de um alheamento que inicia o processo ocasionado por um derrame até a paralisia é perfeita, inclusive, sua andança pelo processo degenerativo que passa seu corpo. Ainda mais, sua altivez em não passar por uma degradação para seu esposo ver. Jean-Louis Trintignant é um colosso de moralidade ao fechar sua esposa da bisbilhotice de filha e amigos. Toda sua força está concentrada no verbo afiado e na tarefa diária de cuidar da mulher. Voltando ao corte, Haneke, cuida que cada cena tenha um peso que traga ao expectador além de informação, mas também participação, talvez o peso do drama seja para ele tão definidor que ele não avente a possibilidade de quem assista não se coloque no filme.              

 

 

 

 

 

 

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