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sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

A fotografia de Alma





Conto por Fernando Andrade

Na ilha de São Pedro a casa com a varanda é ausência. A porta de casa fica sempre aberta a turistas que chegam à ilha, e não há outra opção turística para ir a não ser lá. O longo caminho de pedra da areia até lá é sinuoso, porque a casa é no alto de uma colina. Não é possível dormir ou ir à noite a casa, pois ela enche-se de louva-deuses. A ilha é cheio destas espécies. Parece um altar, quem entra percebe um sentimento estranho de recolhimento! Fui lá para uma filmagem, e o faroleiro da ilha desceu comigo até o poço onde o ex-marido de Teresa jogava a sua rede.  - A única fonte de renda deles era a pesca. - Ele vinha neste poço, pois na praia a água tinha tanto sal que chegava a machucar os pés.  - E ela fazia o quê? Ele olhou para mim e num meio sorriso aguardou a resposta. Talvez quisesse ver aonde ia minha curiosidade. -Ela era retratista”. -De quem? -De pessoas que vinham à ilha. -Mas eu nunca soube de pessoas que viessem à ilha com alguma freqüência! -Eu também não, e sorriu. -Aqui é o lugar do poço. -A saída é no mar onde tem ligação por baixo através de um canal. -Ele a achou aqui. -Melhor, ele a pescou aqui. -Você sabe o que é uma ninfa? -Uma divindade? -Sim, mas não desta área. -Ele a pescou aqui, apontando o lugar. -Ela estava quase morta devido ao excesso de sal. -Começou a sair de casa à noite para vir neste poço. -Teresa não desconfiou. -Ele era meio arisco até com ela. -Mas o que me chamou a atenção é que ela era assimétrica no seu rosto. -Isto o encantou. -O que temos em par no rosto? -Os olhos e os ouvidos. -Exatamente. -O homem possui uma linha assimétrica à mulher. -Numa certa região não há correspondência. -Eles tiveram um caso durante todo o inverno. -Mas a ninfa parecia que queria outra coisa na ilha. -Ela sumiu e por incrível que pareça, Teresa também desapareceu. -Até foi dada como morta. -Ele foi considerado o responsável. -Mas não foi preso, por falta de provas. -Até que começou a aparecer na casa deles desenhos e fotos de pessoas que nunca ninguém tinha visto. -As fotos todas eram enquadradas num meio eixo, ora o direito, ora o esquerdo. -E todos com mais de setenta anos! -A gente brincava que as rugas não continuavam, era quase como parar a velhice. -Teresa nunca havia feito tal opção por um tema assim. -O mais incrível era a jovialidade da expressão dos rostos, todos pareciam que brincavam na hora de tirar suas fotos. Perguntei então, -Mas eram meios sorrisos? -Sim, o pior é que estas pessoas todas estavam mortas quando as fotos foram feitas. -Pesquisei os nomes das fotos. -Todas sem exceção! -Teresa voltou, mas nunca mencionou a ninfa. -Muito tempo depois, veio uma menina de seus 17 anos. -Ele ficou aturdido demais com a semelhança. -Começou a persegui-la. -Mas sabia que era uma interdição assumir qualquer relacionamento com ela. -Até que um dia, ele foi encontrado enforcado na serraria. -Neste dia, Teresa fechou a casa e pediu um barco para sair da ilha. -Aquela foto que você viu na casa foi última antes do naufrágio. -O rosto de Teresa pela metade sorrindo e a outra menina amuada, como se soubesse da verdade toda. -A família de Teresa era toda Judia. -Alma era o nome da ninfa; e também o nome da mãe de Teresa.


 

 

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